Naturalista Teresa da Baviera é o enredo da MUG para Carnaval de Vitória 2026; Veja sinopse

Logo do enredo da Mocidade Unida da Glóri para o Carnaval de Vitória 2026

Na busca pela décima estrela, MUG divulgou enredo e sinopse para o Carnaval de Vitória 2026.

“O diário verde de Teresa” é o tema da vermelho e branco para o próximo desfile. Petterson Alves é o carnavalesco e Leo Soares o enredista. A identidade visual foi desenvolvida por Edson Guidoni.

VAI E VEM DO CARNAVAL VITÓRIA

ANÁLISE DESFILE DA MUG EM 2025

Princesa Teresa da Baviera é o enredo da Mocidade Unida da Glória para o Carnaval de Vitória 2026

SINOPSE:

O Diário Verde de Teresa

A velha canoa corta o espelho d’água. Com delicadeza, desliza rio acima rumo ao desconhecido, se embrenhando lentamente na mata virgem. Dentro dela, viaja uma princesa de outro tempo, de um mundo civilizado. Uma cientista de alma verde, que trocou o dourado dos salões pelas cores da floresta. Teresa da Baviera, talvez a única mulher naturalista e viajante que se tem notícia no século 19, está ali para desbravar um recanto intocado prestes a se revelar a cada nova remada: o Espírito Santo.

É o começo de um delírio tropical.

Com um diário nas mãos e o peito aberto para o impossível, ela parte em sua jornada, serpenteando por entre os veios secretos a bordo da embarcação. Sem saber, Teresa não atravessa só um novo território, mas uma dimensão entre o real e o encantado. Nas margens, o verde denso abriga olhares atentos: serpentes que se enrolam nos galhos, onças que se movem em silêncio e jacarés que vigiam, quase imperceptíveis. A vida selvagem se apresenta como em boas-vindas, diante daquela mulher que ousa adentrar seus domínios.

A cada palmo avançado sobre as águas doces, a mata ao redor se torna mais fechada e repleta de mistérios. Na velha canoa, Teresa sente um chamado: algo a espera mais adiante. Algo que sussurra entre as folhas, que convida sem pressa. Nas margens, a floresta se curva para vê-la. Tatus guardam segredos antigos em seu mundo subterrâneo, tamanduás desfilam com
solenidade e preguiças acenam lentamente com olhos sábios e como quem diz: estávamos todos à sua espera. Incrédula com tantas maravilhas, é hora de sentir em seus próprios pés aquele chão repleto de mistérios. E ela registra tudo o que pode em terra firme: formigas, insetos, borboletas e pequenos seres, invisíveis para muitos. A noite cai e o breu espesso transforma, repentinamente, a floresta em um palco de mistérios.

Na linha tênue entre o sonho e a vigília, Teresa é surpreendida por uma sinfonia jamais ouvida por outro visitante. Uma delirante orquestra natural toma conta da escuridão: sapos, rãs, grilos e aves se revezam em harmonias perfeitas, sob o véu da noite, compondo um coral de sons e segredos da mata. O medo se transforma em êxtase. Embalada pelo espetáculo inebriante, ela adormece sob a regência invisível da floresta.

Ao amanhecer, é preciso prosseguir. A canoa segue seu curso, guiada por águas ora calmas, ora dançantes. O diário treme nas mãos de Teresa. Tomada de euforia, ela sabe que está próxima de seu destino: encontrar os botocudos, os grandes donos da terra e motivo principal daquela viagem rumo ao inexplicável. Aos poucos, eles surgem por entre as folhagens como se fossem espíritos antigos da floresta: homens, mulheres e espertos curumins se aproximam das margens, e recebem a visitante com respeito e curiosidade. Não há desconfiança, mas acolhimento. A mata virgem testemunha o encontro, já escrito nas linhas do destino.

Ela se deixa levar e é absorvida por esse novo mundo: observa costumes, aprende sons de comunicação, registra hábitos com avidez. De alguma forma, eles já se conheciam. Mas algo ainda mais profundo está por vir. É convidada a beber uma infusão feita com ervas da mata. E, ao provar o líquido, um transe toma seu corpo. A floresta gira, o tempo se distorce, e visões se abrem em sua mente: nascentes e rios secos, florestas que ardem como labaredas de fogo, ventos de destruição e gritos sufocados. Ela vê o futuro sombrio daqueles que hoje guardam a floresta.

Ao acordar do transe e perceber-se dentro daquela tribo, um silêncio paira. Os olhares dos botocudos dizem tudo. Eles também sabem sobre as visões. De alguma forma, sempre souberam. Teresa reluta. Mas ela precisa seguir, então agradece. Recebe presentes: lanças, adornos e relíquias indígenas que testemunham a veracidade de tudo aquilo que viveu. E leva consigo uma missão: é preciso registrar tudo isso em seu diário de bordo e, algum dia, mostrar ao mundo. As belezas, os perigos, os seres alados de penugem faiscante, as orquídeas suspensas em troncos seculares, os cantos e os encantos de um Espírito Santo que um dia foi puro, selvagem e inesquecível.

Novamente a bordo da canoa encantada – guardiã do delírio – a cientista é lentamente conduzida de volta ao seu ponto de partida. Teresa já não é mais a mesma. A princesa das matas agora é uma testemunha de tudo aquilo.. Sua missão está clara: escrever tudo, contar tudo, proteger tudo. Suas palavras, afinal, serão sementes. Suas ilustrações, uma relíquia para a posteridade. Sua história, uma profecia. Pois um dia, quem sabe, novas Teresas encontrarão as páginas deste diário e, nelas, ouvirão mais uma vez o chamado da floresta. E talvez — só talvez — mudem o curso do destino.

Uma coisa é certa: sempre haverá, entre as raízes e a neblina, uma velha canoa à espera de quem esteja disposto a sonhar.

Carnavalesco: Petterson Alves
Enredista: Léo Soares

Dedicatória:
A Teresa da Baviera, a Auguste de Saint-Hilaire, a Johann Baptist von Spix.
E a tantos outros naturalistas do mundo afora que, entre a ciência e o delírio, se embrenharam nas matas brasileiras, em especial as capixabas, para apresentar ao mundo um mundo que nem mesmo nós conhecíamos.

Carnaval Capixaba