“Contigo ao meu lado, eu andarei, vestido e armado”, diz um trecho do samba-enredo levado pela Mocidade Unida da Glória para o Carnaval de Vitória 2025, em homenagem a São Jorge. No verso, reconhecemos algumas características dos devotos do santo. São confiantes, guerreiros e principalmente vencedores das batalhas do dia a dia.
A história do santo se mistura com a do sambista justamente na hora da dificuldade. É o guerreiro quem ajuda seu ‘afilhado’ a afastar demandas. A popularidade de Jorge aumenta ainda mais quando, mesmo que informalmente, ele se torna protetor dos prostíbulos, bares, clubes de futebol, apontadores de jogo do bicho e, principalmente, quadras de escolas de samba. É neste último local que ele atrai uma legião de devotos. Não à toa, já foi homenageado direta e indiretamente dezenas de vezes. A mais recente, na MUG, no Carnaval de Vitória 2025.
Para o professor Luiz Antonio Simas, a fama de São Jorge tem um ponto de partida.

“A celebração ao santo chega junto com a colonização de Portugal, onde São Jorge é padroeiro. Quando a corte vem para o Brasil o culto cresce muito graças a devoção que Dom João VI tinha pelo santo. A popularização dele inicia a partir daí. Em seguida, pela forma como foi sincretizado ao orixá Ogum, que é extremamente popular pelos terreiros do Rio de Janeiro. Existem relatos de devoção a Ogum dos negros que lutaram ainda na guerra do Paraguai em 1864. Outro fator que conta muito é a longuíssima tradição de que São Jorge é o santo para as horas difíceis. Santo de quem está no perrengue, no sufoco, de quem corre atrás. Nas macumbas cariocas, ainda na década de 20 e início dos anos 30, a presença de Ogum era muito forte. O fator decisivo que une isso tudo é que São Jorge é profundamente cultuado numa religião muito carioca: a Umbanda”, explica.
O historiador e mestre em estudos urbanos Marcus Vinicius Sant’Anna, contou em uma de suas publicações no instagram a origem das famosas feijoadas de São Jorge no 23 de abril.

“Pai Procópio de Ogum foi um pai de santo baiano, grande liderança na luta dos povos de terreiro. Chegou a ser preso e espancado pela polícia pelo simples fato de praticar o candomblé. Certa vez, em seu terreiro, acabou negando a entrada e consequentemente comida a um homem. Algumas pessoas dizem que era uma pessoa em situação de rua e que não se vestia adequadamente. Outros afirmam que era um desafeto do pai de santo. O fato é que Ogum, orixá de Pai Procópio, não gostou da atitude. Afinal, o ato de servir comida é importantíssimo para as religiões de matriz africana. Ogum ordenou então que uma panelada de feijão, uma das comidas oferendadas a ele, fosse feita e distribuída anualmente a partir dali. Surgiu assim a feijoada de Ogum, que ficou bastante conhecida em Salvador, e ao chegar no Sudeste, além dos povos de terreiro, foi abraçada pelo povo do samba. Onde Ogum é sincretizado com São Jorge. Por isso, neste dia, as ruas vivenciam a melhor combinação brasileira: festa, fartura e devoção pelas entidades guerreiras. Tudo feito por um povo que luta diariamente”, relatou Marcus.
No Espírito Santo, apesar do santo não ser tão popular quanto em outras cidades do sudeste, como no Rio de Janeiro, São Jorge também é aclamado em diversos festejos. Nesta quarta-feira (23), o Pega no Samba realiza evento em homenagem ao santo guerreiro.
Seja nos terreiros de umbanda e candomblé ou nas igrejas espalhadas pelo país, seja como São Jorge ou como Ogun, que o santo guerreiro siga inspirando enredos de escolas de samba, letras de músicas, tatuagens, frases em carros e toda forma de arte.
Salve São Jorge!
