A atual campeã, Independente de Boa Vista, será terceira escola a desfilar no sábado de Grupo Especial do Carnaval de Vitória. Na busca pelo bicampeonato, levará para avenida no próximo desfile uma figura ilustre e tradicional de Cariacica: João Bananeira.
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Os compositores terão cerca de um mês para escrever o samba-enredo. No dia 18/08 os poetas deverão fazer a inscrição. A premiação para parceria campeã será de R$15.000,00 (quinze mil reais).
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Veja a sinopse:
JOÃO DO CONGO – A VOZ QUE DANÇA NAS FOLHAS DA RESISTÊNCIA
I
No silêncio da mata, o tambor acorda a terra.
Brota do chão, coberto de folhas, um corpo que gira e que canta.
Ele não tem rosto.
Tem voz e ela é feita das folhas de vida própria, que encantam o encantamento.
Não tem nome.
Sua presença se faz sentir na ancestralidade.
Nasceu João Bananeira.
Filho da mata, alma da rua, vida da resistência.
Sua pele é casca de tambor e estala como reco-reco.
Veste o sagrado com o profano e seu riso é reza, ensinando e dançando a briga com a brincadeira.
Chega com a batida que não se cala, no som da casaca e no estandarte que atravessa o tempo.
A Águia da Boa Vista sobrevoa o oceano da história e encontra o primeiro batuque.
Ele não veio sozinho.
Trouxe os ventres africanos, as rezas bantas, o chão ameríndio, as ladainhas católicas e o suor de quem transformou a dor em tambor.
II
O Congo nasceu na travessia e se formou de devoções.
Nasceu na vida entre folhas e terras distantes.
Carregou nos ombros, revoltosamente, o peso triste da escravização e, nos pés, a ginga da liberdade.
Misturou as memórias de reinos africanos com os territórios invadidos do Brasil.
No Espírito Santo, fincou suas raízes nos quintais de terra batida.
Nos terreiros, montou a morada entre o sagrado e o popular.
A Roda D’Água viu nascer uma festa.
Ali, a saudade virou toada.
Em Cariacica, as casacas são entalhadas com o mesmo amor com que se esculpe um gongá.
Os estandartes são bordados por mãos que conhecem o segredo do tempo.
E os tambores, feitos com madeira e pele de bicho, guardam os mistérios que nem o vento ousa contar.
Sob a proteção de São Benedito e de Nossa Senhora da Penha, os congueiros aprenderam a viver sua liberdade sob as fantasias.
Por trás das máscaras, a alegria é ato político.
Cada passo é uma oferenda.
III
João Bananeira é um deles.
É um de nós, nós do Congo.
E também é muito mais.
É um corpo encantado que não se explica.
Ele dança com cambões e faz da vara um bastão de poesia.
Espanta, encanta, gira. É o guia zombeteiro que ri da opressão transformando dança em resistência, com a força das folhas numa revoada de sobrevivência.
Não se dobra e na boca do povo virou lenda.
Entre os becos da Roda D’Água e os barracões da Boa Vista, João se faz multidão.
E, como toda lenda, se multiplicou: em cada criança que se fantasia, em cada mestre que puxa a toada, em cada mulher que gira sua saia rodando o mundo.
IV
O Congo não é um só.
Ele canta com muitas vozes: em Viana, em Vila Velha, na Serra, em Aracruz, em Ibiraçu, Fundão, Anchieta, Linhares e em muitos outros lugares encantados.
Cada banda guarda um sotaque, cor e reza sua promessa.
Mas todas sabem que o tambor é o mesmo.
O som da casaca é reconhecido pelos irmãos de longe.
Essas vozes, unidas, contam a história de um povo que nunca se calou.
Que aprendeu a guardar a memória nos instrumentos e nos estandartes.
A cada fincada de mastro, há um grito de permanência e um futuro construído na base da tradição e no amor.
V
E quando tudo parece se perder, eis que Ela aparece.
No alto do convento, Nossa Senhora da Penha, Mãe negra de todos.
Sob seu olhar, o Congo floresce nas novas gerações que aprendem a dançar antes mesmo de falar.
Só acreditamos em Deuses que sabem dançar e Nossa Senhora da Penha protege os filhos de João.
Protege o futuro do tambor.
E é por Ela, por João e por todos os que mantêm viva a folha da resistência, que a Boa Vista canta seus 50 anos.
Hoje, no Sambão do Povo, somos tambor.
Hoje, somos mastro.
Hoje, somos casaca.
Hoje, somos o Congo que não se dobra.
Hoje, somos todos João Bananeira, folhas de resistência.
Carnavalesco: Cahê Rodrigues
Enredista: Clark Mangabeira e Victor Marques