Leia sinopse do enredo da Boa Vista em homenagem ao fotógrafo Sebastião Salgado

Data limite para compositores entregarem os sambas é dia 19 de agosto. Final acontece em 6 de setembro.

Vídeo com a explanação do carnavalesco Cahe Rodrigues está disponível no YouTube do Capixabices.

Leia a sinopse na íntegra:

O Grêmio Recreativo Escola de Samba Independente de Boa Vista tem a honra de apresentar para o carnaval 2025 o enredo “Os olhos do Mundo – Assombros de Sebatião Salgado”. A homenagem ao grande fotógrafo será feita como uma aventura através da sua forma de olhar a vida e da sua jornada em busca de imagens que o mundo precisa enxergar. Sebatião Salgado é uma força viva, cujos assombros nos legaram uma arte que ressoa a essência.

Janelas da alma
Cinzas da terra. Vasta terra de Minas Gerais. Formaram paisagens. Mais, formaram olhos. Olhos que tudo veriam. Olhos que tudo veem. Janelas de uma alma incandescente que brilharia através de câmeras fotográficas. De Aimorés, amores pelo mundo das cores, que seria retratado em tons de preto e branco. A prata do seu mundo, colorido por dentro, em sentidos, sentimentos, vísceras, assombros. Sebatião nasceu pra crescer. Salgaria os olhos dos outros com sua vista infinda. Nasceu menino-jacaré, nadando com eles no Vale do Rio Doce. A passos de adolescente, veio ao Espírito Santo. Cresceu espíritonovo à Boa VIsta de todos. Conhecer para fotografar: veio ter-se com a cidade grande. Fez de Vitória alicerce de cimento para a vida da sua vida artística. Conheceu aqui o amor – Lélia, a pianista – e a educação formal em economia. Daqui, inspirou-se a combater a injustiça social e política, grito escancarado de punho cerrado contra a Ditadura.

Afiado, sem nunca desver a realidade, foi para Paris. Lélia ao seu lado e, na bagagem, a solidariedade pelos brasileiros companheiros que também lutavam contra os destroços do Golpe. E lá recomeça sua história, quando uma doença o levou a outro canto da França e a Genebra. Uma máquina fotográfica encantou sua esposa. Compraram a máquina. Comparam uma nova vista.

O que os olhos veem, o coração sente
Ainda trabalhava com economia. A fotografia, impregnando-o devagar. Viajava muito pelas Áfricas, seu paraíso, outro lado-irmão do Brasil. As Áfricas do seu destino, do seu espírito, sem a a qual Sebastião não existiria. Pelos anos da década de 70, assim, a economia ficaria para trás. Escancarou-se a catarse: entendeu que com lentes, focos e filmes daria imagens Às necessidades sociais e econômicas do mundo. Mais: daria realidade a elas. Teria liberdade para ver. Fotografou e, para sempre, fotografaria. Entendeu que seu legado seriam vidas em preto e branco para que o mundo pudesse notar as cores cintilantes embutidas nas imagens que registrava.

Militante fotógrafo? Fotógrafo militante? Sebastião é mais: sangue, carne, ossos, tudo feito de fotografia.
Tons de cinza para narrar com voz gritante imagens caçadas com fotos. E o menino dos olhos infindos registrou tudo, intensamente tudo. Mágica feita com cliques de uma emoção só dele. Para sempre as Áfricas do seu coração.

A terra amada de sua América Latina.
O Brasil, do Sertão à Amazônia.
Trouxe à luz prateada vidas muitas vezes invisíveis. As agruras do campesinato e da pobreza sul-americana. Os povos originários. Outras Américas surgiram, gravadas pela lente do gênio que percorreu continentes. Olhos que reconheceram as dores físicas de irmãs e irmãos, nômades, trabalhadores, as minas e o flagelo do garimpo da Serra Pelada. Olhos que viram a tristeza e a atrocidade dos Êxodos e Retratos de Crianças do Êxodo. Os fins e começos dos mundos.
A lente combativa que nos legou espectros inalcançáveis antes dela. Mas também houve encontros com esperançosa beleza. Renascer e rever.

Gênesis de Sebastião Salgado, agora homem-tartaruga que se transformou em uma para fotografá-la nas Galápagos. Assim viu mais, determinado em encontrar a vida além da humana, em essência, viva desnuda, espaços de existências. O mundo é de todas as espécies. Cosmológica não humana: Sebastião de todas as criaturas e da terra viva. Corações que passaram a bater quando guardados em filmes fotográficos. Testemunhos fotográficos do que nos faz humanos, do que nos faz árvores e do que nos faz animais – gente, planta, bicho.

Cada um vê o mal ou o bem conforme os olhos que têm
Não basta ver: há de se enxergar. Sebastião Salgado enxergou. Laureado com diversos prêmios, atuante de causas sociais e ambientais, enxergou o âmago das necessidades. Enxergou não só a poeira da terra, mas os pés descalços que nela caminham. Céu, terra, ar e pessoas. Sebastião noticiando as urgências da existência. Da vida que ele retratou com esmero, respeito e cuidado. Da não-vida, contra a qual se insubordinou desde cedo. Desde jacaré.
Retratos para cuidar.
Retratos para curar.

Dedicação ao Médicos sem Fronteiras, à Organização das Nações Unidas, à Anistia Internacional. O imparável fotógrafo que luta contra os males da cegueira da crueldade. Seus olhos do mundo a salvar e salvar-se na vastidão. Ter-se consigo. Espelho dos outros. Recebeu, pela vida dedicada às causas humanas e à fotografia, a espada da Academia de Belas Artes da França.
Tornou-se o que já era: imortal.
Olhar infindo e imortal.

Olhos que a terra há de comer
E se da terra veio, à terra voltou: o Instituto Terra, em suas Minas Gerais, hoje se dedica à natureza que ele preservou em fotos. Sempre ao lado de Lélia, agora é da terra e para terra que se volta. Sua terra. A terra de sua infância.

Replantar.
Replantar-se.
Sebastião Salgado é mata, morros, rios, riachos. Olhos da Mata Atlântica. Olhos de preservação. Paraíso a ser reconstruído com a terra do seu espírito. E, hoje no chão do Sambão do Povo, os olhos da Águia de Cariacica enxergam mais longe para exaltar vida e obra de Sebastião Salgado. A Boa Vista declama sua poesia visual ao fotógrafo dos fotógrafos, À vista que tudo vê.
Aos olhos do mundo.
Ao mundo do olhar.
À imagem das vidas.
E à vida das imagens.
Eis tudo, em preto e branco.
Eis tanto, no prateado dos assombros de Sebastião Salgado.

Carnavalesco: Cahe Rodrigues
Enredistas: Clark Mangabeira e Victor Marques

Carnaval Capixaba