De olho no tricampeonato inédito, a Mocidade Unida da Glória lançou no último domingo seu enredo para o carnaval de 2025. São Jorge, padroeiro da escola, será o homenageado no Sambão do Povo. Mais uma vez o enredo tem autoria do carnavalesco da escola, Petterson Alves, e do enredista Leonardo Soares.

Segundo Petterson, o tema surgiu ainda em 2023, quando a MUG se preparava para a Feijoada do Santo Guerreiro naquele ano.
“Foi um enredo bastante intuitivo, podemos dizer dessa forma. Eu estava com Jurandy dessalgando as carnes da feijoada de 23. Então brinquei com ele ‘imagina a MUG bicampeã indo para disputa do tri, o que faremos?’, ele disse que não fazia ideia. Então só apontei para as carnes e a arrumação e ele entendeu. Disputar um terceiro título consecutivo, com o Santo de devoção de grande parte do povo brasileiro é emocionante”, contou Pett.
O artista fez questão de dizer e, de certa forma, tranquilizar alguns amantes do Carnaval Capixaba e da MUG, que o enredo da vermelho e branco não será bibliográfico. O São Jorge da escola será aquele que tem mais conexão com o povo brasileiro.
“Quando expliquei para Robertinho a primeira coisa que eu disse foi que não queria fazer o enredo batido, bibliográfico. Todo mundo sabe que São Jorge nasceu na Capadócia, lutou, serviu ao exército romano. Essa não é a ideia. Quero falar da veneração, da conexão com o brasileiro. Sincretizado, ele é Ogum. Realmente o ferro. Um ímã que conecta as pessoas. É um santo que não tem distinção de cor, credo, sexualidade. É um santo que abençoa e cobre com sua capa encarnada. É venerado pelo preto, branco, pobre, rico, marginalizado, suburbano, inocente, condenado. É o Santo popular. Ele está no altar da igreja católica e no do botequim, a mesma devoção da carola é a do dono do bar. Isso é o retrato do povo brasileiro”, destacou.
Nesta segunda passagem de Petterson pela MUG, a plástica dos dois últimos carnavais da escola foram completamente distintas. Para 2025, o carnavalesco afirma ser mais uma aposta da atual campeã.
“A MUG é uma escola eclética. Já fez de tudo, mas com religiosidade dividida entre cristianismo e sincretismo, não. Está sendo um grande desafio logo de cara para a escola. Foi uma emoção muito grande na apresentação do tema na feijoada do último domingo (21/04). Estava estampado no rosto do muguiano a satisfação de ter o santo protetor materializado como enredo. Nós, como artistas do carnaval, precisamos ter a percepção do enredo assim que ele é lançado. Isso também é um termômetro, a aceitação da comunidade é de extrema importância. Foi aceito de forma unânime. Por cristãos, umbandistas e candomblecistas que fazem parte da escola. É um sonho do Robertinho que vamos correr atrás, ele já tem 9 estrelas, mas quer o tri. E iremos em busca pedindo a São Jorge e a Ogum, senhor das estradas, para tirar todos os percalços e que mantenha o trilho em linha reta para o sonhado tri”.
Apesar da ancestralidade fazer parte da construção do que conhecemos hoje como escola de samba, o carnaval de Vitória se acostumou a não ter enredos com temáticas africanas na avenida, principalmente no Grupo Especial. Enquanto em outras praças como São Paulo e Rio de Janeiro a religiosidade frequentemente está presente, por aqui pouco se fala do culto aos orixás. Sobre a responsabilidade da MUG em estar novamente na vanguarda, Pett diz que acima de tudo é preciso ter respeito.
“Nós vivemos num país extremamente preconceituoso. Ao ponto de que negros escravizados quando foram trazidos para o Brasil precisaram sincretizar São Jorge com Ogum para que pudessem cultuá-lo. Muitas vezes as pessoas parecem esquecer de onde vem as escolas de samba e que elas nasceram dentro de um terreiro. É um novo desafio. É a atual campeã, num município bastante religioso, que é Vila Velha, abordando um tema sobre São Jorge e com recorte no sincretismo de matrizes africanas. Eu e Léo estamos estudando tudo com muito carinho porque queremos o santo das duas vertentes e dentro do dia a dia do cotidiano brasileiro. Afinal, estamos num país laico.”, finalizou.