Na intenção de caminhar junto com os sambistas capixabas, o Capixabices apresentará aos leitores os candidatos a vereador e vereadora que são diretamente ligados ao universo do Carnaval. Afinal, não é segredo que temos diversos nomes que ajudam as escolas, Ligas, baterias, alas e etc, e que contribuem muito para construção da nossa festa. As 10 questões são iguais para os candidatos.
Conheça o candidato a vereador André Moreira do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL).
1 – Como você enxerga o momento atual dos desfiles das escolas de samba?
É notável o avanço que o Carnaval experimentou em Vitória nos últimos 15 a 20 anos. Os desfiles estão em uma fase de expansão e valorização cultural, mas precisam dar um passo além. É preciso que as escolas caminhem na direção da autonomia, inclusive em relação à política. Carnaval é crítica e só se pode exercer a crítica, com liberdade, inclusive a financeira. Nesse sentido acredito que as escolas precisam ser apoiadas para que possam funcionar o ano todo, mas numa busca da sustentabilidade econômica. Tem que haver projeto e coordenação. Elas precisam ganhar condições para ser fonte de renda e oportunidade de trabalho para as comunidades onde estão inseridas. Na medida em que as escolas alcançarem esse patamar a distância entre a qualidade dos desfiles pode ser diminuída. É preciso lembrar que há necessidade de ações metropolitanas, porque nem todas as escolas que desfilam em Vitória, estão localizadas no município. É preciso articulação intermunicipal. É difícil acontecer isso em uma gestão municipal que não se articula, não conversa com o Estado, com o Governo Federal e nem com outros municípios.
2 – Se eleito, como pretende contribuir para o crescimento dos desfiles?
A atuação do vereador é muito restrita nesse campo. O que pretendo fazer é manter a articulação com os movimentos sociais, escolas e blocos de carnaval incluídos para ajudar na organização desses grupos. Fizemos isso nos dois anos do nosso mandato e colhemos muito frutos. O carnaval de rua, por exemplo, só aconteceu porque trabalhamos em conjunto com o Blocão, comerciantes, moradores e outros apoiadores do Carnaval para defendê-lo de decretos absurdos baixados pela Prefeitura. É um trabalho que não pode e não vai parar. Outro ponto em que posso contribuir é na construção de políticas que permitam o financiamento às escolas de samba, para além dos recursos públicos. É preciso pensar num caminho que possa resultar na profissionalização do setor, com formações para quem trabalha diretamente no carnaval.
3 – Ainda existe uma disparidade visual entre as escolas de sexta, sábado e
domingo. Caso eleito, o que será feito para elevar o nível dos desfiles do
Acesso?
A disparidade entre os grupos se deve, em parte, ao acesso desigual aos recursos. Quando se pensa o carnaval como um todo, dos blocos de rua às escolas em todos os grupos, é possível construir soluções que beneficiem a todos e diminuam essas diferenças paulatinamente. O mais importante é que as escolas
representem suas comunidades e que os moradores se vejam representados pelas agremiações.
4 – A Cidade do Samba Capixaba já é uma realidade. Após a entrega da obra
pronta, como fomentar ainda mais a cultura das escolas de samba no
município?
A Cidade do Samba é um projeto cujas obras estão previstas para serem iniciadas em 2025, pós carnaval. Por enquanto é só um projeto 3 D. É preciso que ele se torne, de verdade, um centro de referência cultural e de formação para novas gerações de modo Defendo que ela, junto com o Sambão do Povo, possam sediar a realização de eventos ao longo do ano, sejam espaços para promover ensaios, oficinas de samba e ações comunitárias, conectando as comunidades com as escolas de samba. Vejo as próprias escolas de samba como espaços de cultura e educação “não escolar”. Elas são centros de encontro comunitário que precisam ser estimulados.
5 – Qual sua escola do coração? E por quê?
Não tenho uma escola de coração específica. Defendo o fortalecimento de todas as agremiações, tanto do Grupo Especial quanto do Acesso, reconhecendo que todas têm um papel fundamental na preservação da nossa cultura. Temos uma proximidade maior com duas agremiações em virtude de projetos que elas desenvolvem. É a Pega no Samba e a Imperatriz do Forte. Ambas procuraram o mandato e apresentaram iniciativas que nós apoiamos porque tratam de valorização da juventude e profissionalização. E reafirmo: as escolas precisam se libertar do poder público, precisam alcançar autonomia em relação ao processo político e preservar a liberdade de crítica.
6 – Na sua visão, o que ainda precisa ser feito nos arredores do Sambão do
Povo para o crescimento dos desfiles?
Precisamos investir na infraestrutura dos arredores, garantindo melhorias na segurança, mobilidade e acesso ao público. O Sambão do Povo também deve ser pensado como um polo cultural e turístico, atraindo visitantes o ano todo. As escolas e o Sambão têm que estar, necessariamente, conectados com as comunidades.
7 – Como você enxerga as ações feitas pelas agremiações no decorrer do ano,
que vão além dos desfiles de fevereiro?
As escolas de samba e blocos desempenham um papel importante com projetos sociais e atividades culturais, mantendo a chama do carnaval acesa o ano todo. Essas ações precisam de apoio institucional para se consolidarem como ferramentas de inclusão social. Chamo atenção para o Projeto Pega do Amanhã, da escola Pega no Samba, que tem feito a diferença naquela comunidade.
8 – Como podemos pensar a cidade nos dias de carnaval oficial?
Devemos pensar o carnaval como um evento que envolve toda a cidade, desde o apoio aos blocos de rua até os desfiles das escolas de samba. As ruas devem ser transformadas em espaços de convivência, respeitando a diversidade e celebrando a cultura popular. Nos últimos anos não é isso o que tem acontecido. Foram várias as tentativas de se impor toque de recolher, via decretos ou por meio de violenta ação policial. Não acho que essa seja a visão e a ação mais adequada para que a cidade se beneficie da folia. Carnaval é cultura, mas também cumpre importante função econômica.
9 – Como aprimorar a distribuição de recursos de maneira que as escolas
possam construir o Carnaval de março a fevereiro?
Precisamos criar um fluxo constante de financiamento, não necessariamente público, ao longo do ano, para que as escolas tenham previsibilidade para planejar seus desfiles. A combinação de leis de incentivo cultural, parcerias privadas e recursos próprios é fundamental para garantir esse suporte contínuo.
10 – Como pensar em um processo de formação para trabalhadores do
carnaval? (Aderecistas, ferreiros, costureiras e etc.)
A profissionalização do carnaval é essencial. Defendo a criação de centros de formação técnica voltados especificamente para os trabalhadores do carnaval, como aderecistas, costureiros e escultores, para garantir que esses profissionais tenham qualificação e visibilidade, assegurando a qualidade dos desfiles.
Nesse sentido, a própria Cidade do Samba, se sair do papel, pode ajudar muito. Mas gostaria de chamar a atenção para que os blocos de rua sejam contemplados nas políticas públicas. E não estou falando de recursos, embora os recursos seja importante. Criar condições, suporte, para que os desfiles aconteçam é essencial nesse processo. É deles que surgem novas escolas, novos músicos e outros profissionais ligados ao universo do samba. Os blocos de rua e as escolas de samba são partes complementares da nossa cultura carnavalesca. Tenho defendido políticas que incentivem ambos, já que os blocos ajudam a manter o espírito do carnaval vivo nas ruas, conectando a população com as escolas. Ambos são motores culturais e econômicos para a cidade durante o carnaval e ao longo do ano.