O Pega no Samba revelou na última quarta-feira (14), o enredo que levará para o Sambão do Povo no Carnaval de Vitória 2026. Ancorado no momento cultural em que os desfiles se encontram, voltados para ressignificar e apresentar novas histórias para o público, Jorge Mayko e a escola de Consolação vão numa narrativa afrocentrada.
“Okê Caboclo Sete Flechas – Guardião Ancestral da Natureza” é o tema escolhido. Em entrevista ao Capixabices, Jorge contou que o enredo foi definido após diversos diálogos com a diretoria.
“A diretoria pontou um caminho de enredo. Precisávamos de um tema que estivesse relacionado ao meio ambiente. Nas conversas, expliquei sobre a importância do tema e da importância dos temas abordados por escolas de samba. Então, seguimos o caminho do meio ambiente, mas, com um fio condutor diferente. Pensando nas diversas camadas que um tema tem, me veio a ideia do Caboclo 7 Flechas. Passei dias estudando, e quando apresentei, foi aprovado de primeira. Achamos caminhos de falar de forma cultural, com cara de escola de samba, e principalmente da conexão com a natureza”, explicou Jorge Mayko.
Em primeira mão, Jorge detalhou como o desfile de 2026 do Pega será divido.

“Partiremos do princípio que o caboclo é o guardião da natureza. Temos uma maior bagagem nas religiões de matriz africana, especificamente na Umbanda, onde chega com mais força. O enredo inicia nos povos originários, através dos Pataxós. A relação do caboclo com a natureza, ainda virgem antes de ser invadida pelos português. No segundo momento apresentaremos o Caboclo numa manifestação de fé. Onde aquele indígena passa a ter uma potência espiritual gigantesca ao receber as 7 flechas dos Orixás. Ali ele se torna um guerreiro espiritual. Em seguida, é a o Caboclo guerreiro homem e espiritual, mas que também permeou a todo momento na natureza. Sempre nos ensinando que o que é da terra, precisa voltar para terra. A importância da preservação, a troca. As tecnologias ancestrais que aprendemos com os povos originários. O poder das folhas para curas corporais e espirituais. Falar da importância disso tudo, através do 7 Flechas. Caboclo que ensina que a natureza é templo sagrado. É daquele chão, daquele espaço que se promove o bem e deixe o bem para os que virão. Essa é a mensagem que estará a todo momento dentro do enredo.
Afro de novo?
Ao ser perguntado sobre fazer mais um enredo afro, seguido de “Pembelê Sereias de Zambi”, tema do Pega em 2025, Jorge ressaltou a importância das temáticas não só para o Carnaval de Vitória, mas também para o reencontro do Pega como escola, potência e território.

“Em algum momento o Jorge vai experienciar outros tipos de enredo. Mas no atual contexto do Carnaval e do Pega, acreditei e bati o martelo que precisaríamos ir na mesma pegada que foi 25. Foi um enredo das sereias pretas, com potencial gigantesco. Claro que não quero ser taxado do ‘carnavalesco que só faz afro’. Iremos numa outra vertente, mas que permanece na linha. É pensar que o último trabalho deu certo e continuaremos também pensando que o Pega está começando a se encontrar nessas temáticas. Obviamente a escola já teve outros enredos. Considero que ‘dos crias’ pra cá, a escola entende o pertencimento. Enredos com representatividade. Pra mim, esse é o caminho dentro de uma comunidade periférica. Usar a própria história, se reconhecer naquilo. Nós cantamos a plenos pulmões e levamos verdade. Isso faz com que muitos se entendam como território, como potência preta. A partir disso se constroem outras coisas”, pontuou.
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Desejo de ficar no Pega e seguir construindo histórias
O desfile de 2025 marcou a história do Pega no Samba e de Jorge. Da escola, por ter visto novamente um povo feliz e satisfeito com o desfile proposto. Do carnavalesco, a estreia em carreira solo e as dezenas de dúvidas sobre o que viria a partir de um ‘novo profissional’ da folia capixaba. Juntos, Pega e Jorge não venceram, mas tem plena consciência de que o trabalho foi entregue. Segundo Jorge, um dos principais motivos que motivou a permanência na agremiação foi a cumplicidade.

“A minha decisão de continuar no pega foi motivada pelo companheirismo e cumplicidade que encontrei naquele espaço. Falo da minha relação de diálogo, principalmente com o presidente Dannilo Amon e sua diretoria. O respeito que tenho de todos os segmentos a tudo o que será abordado. Sou ouvido a todo momento. Destaco também a liberdade criativa. A gente senta e entende a função de cada um dentro do enredo e cada um ali vai construir sua parte sem interferências. Ter o apoio dos segmentos e da comunidade é o que resume a minha permanência. Temos uma linguagem muito clara. É: ‘Gostei’ ou ‘Não gostei, vamos resolver?’.
Nos quesitos diretamente ligados ao trabalho artístico do carnavalesco e equipe, Jorge gabaritou em alegorias, perdeu 0,2 em fantasias e 0,1 em enredo. O vice campeonato do Pega foi aplaudido por muitos. Afinal, utilizando uma expressão muito utilizadada no carnaval, o Pega “colocou desfile na avenida”. Apesar da possibilidade de seguir mais um ano no Grupo de Acesso A, caso as mudanças não se concretizem, a escola avalia positivamente o último desfile e deseja mais para o Carnaval de Vitória 2026.

“Fizemos um desfile incrível. Uso muito uma frase do presidente de que talvez seja o maior desfile do Pega desde 2010, quando a escola falou sobre educação. Muitos torcedores e amantes do carnaval falam que independente do carnaval, está na história da escola. Claro que isso emociona. Ainda mais pelo primeiro trabalho em carreira solo. A vontade de evoluir é o que faz a gente projetar 2026 ainda maior. Sabemos das responsabilidades e cobranças, mas temos nos preparado muito pra isso. O anúncio do enredo é recente, mas dialogamos por semanas para encontrar o caminho ideal. Trabalhamos na possibilidade do Grupo de Acesso A, mas também do Grupo Especial com 10 escolas, o que aumenta muito a responsabilidade. Nós estaremos prontos, com quesitos fortalecidos após justificativas e uma comunidade ainda mais preparada.”, finalizou.